quarta-feira, 28 de março de 2012

O Serviço Rosacruz


Por Cristóvão Enguiça, FRC*

Muito se tem escrito acerca do Serviço nas Organizações de misticismo, de tal modo que se corre o risco de as palavras e os conceitos poderem perder o valor e a força que deveriam ter.

Certamente, todos saberão compreender esse facto e lograrão apreender as ideias abordadas em toda a sua amplitude e significado.

Inúmeros buscadores demandam os portais da Ordem seleccionando a via do Serviço para, através dela, poderem alcançar e elevar os objectivos de evolução que inequivocadamente procuraram com a sua admissão a membros.

Tal atitude e tal via representam, sem dúvida, valores inegáveis e reais. A prestação do Serviço, se for desempenhada com firmes e bons propósitos e se for enriquecida com uma carga positiva de qualidades complementares, representa, com toda certeza, uma compensadora progressão na Senda Mística.

De um modo geral, qualquer tipo de Serviço pressupõe uma relação a dois ou a mais do que dois. Logo à partida, portanto, se nos depara uma boa oportunidade de harmonização pela comunhão no empreendimento, na qual podemos evidenciar fraternidade, companheirismo, abnegação e entrega.

O Serviço deve ser completo e eficaz. Completo porque se o deixarmos a meio, acabamos por desenvolvê-lo de um modo negativo. Começamos em ajuda e acabamos em desajuda e complicação, já que as pessoas que vão prossegui-lo e termina-lo terão não só que desenvolver o necessário trabalho para esse fim como terão também, inicialmente, que acarretar com a tarefa de se inserirem no já feito para também o conhecerem, isto com a assunção de um inevitável e irreparável atraso.

Ao dizer-se que o Serviço deve ser eficaz, queremos dizer que, antes de o executarmos, devemos planeá-lo com o maior cuidado, dando ouvidos às recomendações das pessoas mais conhecedoras.

Na execução, haverá um grande e constante empenhamento em fazê-lo da forma mais perfeita e continuada, de tal modo que ele possa conotar-se com a Obra do Alquimista, procurando sempre pontos de correção que, dia a dia, o tornarão melhor e maior, até aos parâmetros divinos.

Um Serviço mal finalizado ou incompleto representa, em nosso entender, um passo à retaguarda no caminho que escolhemos percorrer.

É certo que as tarefas que o Organismo Afiliado ou nas nossas práticas externas chamamos a nós deverão ter um perfeito ajustamento com os nossos dons e dotes para que o que se referiu seja válido.

Nas prestações apontadas incluem-se, necessariamente, acções por parte dos membros que, à primeira vista, poderiam não parecer um trabalho místico, tais como os estudos regulares e pontuais da Ordem, a maneira de estar em convívio na Loja, no Capítulo, nos encontros, sendo simpáticos, tolerantes e reverentes, o posicionamento mental amoroso e magnânimo para com todos e até a recepção dos Serviços prestados a nós por outras pessoas.

Essas práticas são, quanto a nós, a parte mais significativa do todo, já que são elas que irão garantir o bom destino do Corpo Afiliado e da Ordem, através do prestígio que o bom exemplo revela e transmite a terceiros.

Queríamos finalmente focar os aspectos mais transcendentes do Serviço e damo-nos conta que já os começamos a referir. Isto significa que eles são os mais importantes e os mais requeridos.

Um Serviço, seja de que natureza for, desempenhado com Amor, não é somente um Serviço; é um todo completo e infinito que passa pela própria divindade, não só na sua execução propriamente dita como no modo como chega aos seus beneficiários. Torna-se assim uma peça espiritual, qual motor de contagiante harmonia que faz crescer a vida em nós, que nos cria uma chama de alegria e bem-estar motivador de tudo e para tudo o que é bom e belo. Aí, todos os que recebem essa dádiva se sentem, eles próprios, impelidos para retribuí-la em dobro, se possível.

A bondade deve ser outra característica de quem presta Serviço, já que é ela que provoca a tolerância a reparos oportunos e correctores, que assim serão melhor aceitos. A bondade tolera e faz-nos tolerados, criando o ambiente harmonioso que temos que viver. Se no mundo exterior do nosso dia-a-dia nem sempre conseguimos ver e dar essa harmonia, então, queridos irmãos, que ela não falte aqui dentro, simbolizando o embrião da semente que queremos ver crescer aqui e também ali, lá fora.

Um Serviço sem a Humildade apropriada jamais se poderá revelar proveitoso. Se prestamos um bom trabalho, deixemos as honrarias, as adulações e o reconhecimento do mérito para os outros. Saibamos fechar os ouvidos à adulação e calar a boca aos reparos menos justos e menos convenientes. Essa é a verdadeira humildade.

Não deve ser por acaso que o aforismo popular diz que "o trabalho dá saúde". E dá mesmo, se ele for carregado com as características de Bondade, de Tolerância, de Paz, de Fraternidade e, acima de tudo, de Amores. De Amores, porque os incluímos todos; o fraternal, o filial, o paternal, o maternal, o natural e o Divino.

Bem hajam todos!

*Mantida a grafia original do autor, usada em Portugal - Frater Cristóvão Enguiça é ex-Grande Conselheiro de Portugal.

Fonte: Artigo transcrito na íntegra da revista "O Rosacruz", verão 2012.


PS: Imagens meramente ilustrativas, que não são parte do artigo original.

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