quarta-feira, 15 de junho de 2011

Parceria com o Cósmico


por EINAR EINARSSON, FRC

Individualmente ou em grupos, muitos rosacruzes se envolvem no que geralmente se chama de “ajuda espiritual” ou “metafísica”.

Muitas vezes pessoas que precisam de ajuda (normalmente para cura) pedem à pessoa ou ao grupo que “reze por elas”. Embora todos esses pedidos sejam sempre levados a sério e atendidos, muitas vezes revelam uma incompreensão sobre a natureza do trabalho de cura rosacruz, especialmente sobre a natureza de “Deus”.

Os ajudantes metafísicos muitas vezes são erroneamente considerados pessoas privilegiadas com linha direta de comunicação com o Divino, que não está disponível a outras pessoas fora desse círculo elitizado de curadores. 

Para um número surpreendentemente grande de pessoas que buscam a cura metafísica, Deus é concebido em termos antropomórficos, normalmente como um velho sábio, mas também como um regente autoritário que aflige ou exalta arbitrariamente pessoas conforme o que lhe dá na veneta, encurtando ou prolongando a vida das pessoas em decisões sem pé nem cabeça. É claro que isso não significa que seja errado rezar. Orar pedindo ajuda para superar algum problema grave como um desastre financeiro iminente ou a falta de saúde é, sem dúvida, perfeitamente admissível, quando feito com uma profunda sinceridade e com um senso de justiça universal para todos os envolvidos.

No entanto, os místicos mais avançados – especialmente os grandes mestres e avatares – foram e continuam sendo conhecidos pelo caráter profundo de suas preces, algumas delas ilustrando as páginas de livros inspiradores. Mas uma característica única de suas preces está no fato de eles raramente pedirem favores pessoais ou terrenos. São mais propensos a atos de gratidão, reverência e devoção do que quaisquer pedidos específicos de ajuda pessoal. E quando é o caso de pedir alguma ajuda para qualquer pessoa envolvida, é quase sempre uma ajuda para alguma outra pessoa, não para a pessoa que pede. Existe alguma coisa profundamente gratificante em apelar para a autoridade mais alta que conhecemos (podemos chamá-la de Deus) em prol do bem estar de outra pessoa. 

Em tempos de crise, apelar para Deus em favor de nosso bem-estar é perfeitamente justificável, mas na grande maioria dos casos – e esses acontecem quase todos os dias na vida de todo místico verdadeiro – o apelo é para alguma outra pessoa ou algum grupo de pessoas que se encontram em necessidade. E se queremos fazer solicitações pessoais em nossas preces, o melhor é pedir profunda e sinceramente para termos mais sensibilidade pessoal para os sofrimentos e necessidades dos outros.

Os rosacruzes pedem ao Deus de sua compreensão que os torne dignos e sensíveis à forma mais elevada de amor que conhecem…, e isso muitas vezes se manifesta num desejo profundo de ajudar alguém ou algum grupo de pessoas necessitadas. Eles sabem que é desse amor que necessitam mais do que qualquer outra coisa, e que eles o atraem pelo modo em que vivem suas vidas e se conduzem nos momentos de quietude e de harmonia com o Cósmico.


O místico panteísta 

Para construirmos uma base sólida para o trabalho místico, precisamos elevar nosso conceito da Divindade para a forma mais universal e abrangente que conhecemos.

Precisamos compreender que Deus não é feito à imagem e semelhança do homem. Deus está além de todas as formas humanas. O que percebemos como Deus, nunca pode ser mais do que um perfil muito rústico do que Deus realmente é.

Nenhuma mente consegue abarcar tudo o que Deus é. Para um místico panteísta, Deus é imanente em todo o Universo e, na verdade, além dele. Deus está presente em tudo, desde as mais diminutas até as maiores estruturas que existem. “Cósmico” é uma palavra usada para rotular um aspecto de Deus, isto é, o aspecto que contêm tudo que podemos saber sobre Deus enquanto seres humanos. Sendo apenas uma manifestação de Deus, ele pode ter limites definíveis pela ciência, embora Deus em “si” não tenha limites. Deus inclui tudo, e todos somos, portanto, parte de Deus. A vida e a força de Deus fluem através de nós e se manifestam externamente na forma de santidade e bondade ao grau que permitirmos que isso aconteça…, nem mais, nem menos.

Isso pode ser difícil de aceitar intelectualmente, mas, em momentos de inspiração, alguns místicos sentem emocionalmente dentro de si uma unidade com uma espécie de poder criativo universal e pessoal e, ao mesmo tempo, íntimo. Sem qualquer aviso, são repentinamente tomados por sentimentos de intenso amor pela totalidade da Criação, por Deus. E esse amor se estende para todas as pessoas, na verdade a todas as coisas vivas. Tais sentimentos raramente podem ser expressos por palavras lógicas, no entanto, são ilustrados por analogias.

Paulo, o Cristão primitivo, autor de vários dos livros do Novo Testamento, disse que todos os seguidores da nova religião eram “um corpo em Cristo”.

Tomando a crença do Cristianismo primitivo de que Cristo era o filho de Deus e que seus seguidores eram, portanto, unos com ele, a afirmação pode ser parafraseada como “todos nós estamos unidos em um Deus”, ou “todos nós somos parte de um Deus”.

Trabalhando de forma cooperativa

Estendendo um pouco mais esta analogia, nossos corpos consistem em bilhões de células individuais. Cada célula, seja do cérebro, dos ossos, órgãos ou músculos, é um ser vivo individual que nasce, morre após um período de vida que varia de poucas semanas a muitos anos, e que está imbuído de uma consciência rudimentar.

Célula Humana
Ter um interesse instintivo aguçado em nosso próprio bem-estar significa que nos preocupamos com nossos corpos e, consequentemente, nos preocupamos com seus mínimos componentes: suas células. Mas grupos de células individuais precisam ser regularmente sacrificados pelo bem do todo. Cortamos as unhas, extirpamos nossas verrugas e calosidades e até mesmo cauterizamos nossas feridas infectadas e, como resultado disso, milhões de células são sacrificadas. Como é que isso afeta nosso interrelacionamento com uma simples célula? Será que há nisso algum tipo de analogia com a relação de Deus com os seres humanos individuais?

Se hesitar diante de uma dessas perguntas, pense numa analogia mais compreensível. Imagine-se recrutado para uma enorme força de trabalho com a finalidade de construir uma pirâmide egípcia! Alguns recrutas podem se rebelar e tentar escapar do acampamento. Outros vão se resignar à sua situação e vão continuar trabalhando duro num trabalho que vai permanecer por milhares de anos como um monumento de algum ideal coletivo transcendente, e eles sacrificam tudo o que têm por aquele ideal. Os trabalhadores deste último grupo provavelmente serão os sobreviventes e aqueles que assumirão posições de autoridade e de tomada de decisão. Sua atitude cooperativa e construtiva é como a dos verdadeiros místicos de qualquer tempo e lugar, no sentido de que todos fazem o que lhes é solicitado quando é preciso enfrentar desafios, pois colocam o interesse do seu ideal comum transcendente acima de tudo. 

Célula Humana em divisão mitótica: processo que origina uma nova célula igual à anterior

Os místicos usam legitimamente seus poderes pessoais no melhor de suas capacidades da mesma forma que uma célula sanguínea individual corre para o local onde há uma infecção para começar o processo de cura.

Força espiritual

Os curadores metafísicos têm consciência da grande força divina de que fazem parte. São livres para pedir ajuda dessa força cósmica criativa visualizando claramente um objetivo construtivo e liberando-o dentro da Mente Cósmica.

São também livres para solicitar essa força para seu próprio benefício, mas raramente fazem isso, preferindo, quase sempre, dirigir essa força para os que mais necessitam.

Quando aceitamos tratar um sofredor, estamos bem conscientes de que somos apenas um canal para a força curativa ilimitada do Cósmico. A força psíquica que conseguimos acumular para conseguir curas psíquicas é insignificante diante do poder que temos disponível para dirigir aos aflitos, apelando para as forças espirituais que regem nosso próprio destino.

Cooperando com o Cósmico, tornamo-nos seus parceiros e confidentes e temos a maior confiança na justiça universal e na operação incessante da única lei imutável que sabemos operar nas vidas de todas as criaturas: a Lei do Carma. 


Fonte: Artigo publicado na revista "O Rosacruz" , primavera de 2009

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